Revista Encontros Edição 112

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A arte de contar uma história sem contá-la, em livro


"O Homem Que Não Sabia Contar Histórias", romance de Rodrigo Barbosa discute a nossa integração ou não nas histórias por nós vividas. A narrativa faz um passeio pelo Brasil
  “A história que a gente escreve nunca é a que se quer escrever. Esta, por exemplo, não é a história que eu quis. É a que aconteceu, o que é bem diferente!” (pág. 9).
O Homem Que Não Sabia Contar Histórias. Rodrigo Barbosa, Editora Record. 224 páginas. R$ 32. 
Escritores do século XIX, na maioria, contavam histórias que procuravam o claro dizer. Personagens por vezes fracamente delineados, mas incisivos em traços comportamentais. Muitos desses personagens iam contar uma coisa e acabavam contando outra.
Essa ambiguidade, até “fingimento”, ao narrar um romance, reaparece aqui, com plena intensidade, neste livro de Rodrigo Barbosa, que foi chefe de reportagem de jornal, é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e gerente de comunicação numa empresa de logística.
A trilha de José Brás, meteorologista, teve um sério e decisivo momento — aquele em que olhou o fundo de xícara e ali viu apenas a imagem de um homem medíocre. Foi aí que lhe nasceu a ideia — tentar contar uma história. Entrevistado por Juliana, uma sagaz repórter, sobre o “caso dos pontos luminosos na terra de Hatumbi, em 1972”, teve inspiração para contar sua trajetória existencial, em torno da seguinte divagação: “Dizem que os quarenta é mesmo uma idade em que os homens se dispõem a balanços”.
Mas seu currículo não dava para escrever cinco linhas razoáveis de biografia. Era necessário inventar história? Ou contar casos reais? Afinal, aonde vai e o que terá a fazer, um homem que não realizou nada de importante na vida? “De que serve um homem que nem mesmo é capaz de contar uma história?”.
A escritora Rachel Jardim, na “orelha” do livro, observa que “personagens de Joyce e de Rodrigo se assemelham no espantoso esforço de viver seu dia a dia”. A narrativa passeia pelo Brasil contemporâneo, a relembrar o golpe de 64, a bomba do Rio Centro, a campanha das Diretas Já. Com a voz em 1ª pessoa muita coisa vai sendo revivida num caderno de anotações. Embora, o real, e pra valer, surja em 3ª pessoa, com investigação sobre um caso misterioso.
Numa antiga crônica, Antônio Maria queixava-se da falta de assunto para compor um texto. Ficou desesperado ante tal situação e, de repente, foi tomado por um verso de Fernando Pessoa: “em tudo quanto olhei fiquei em parte”. Ficamos em parte, ou totalmente integrados, nas histórias da vida? “O homem que não sabia contar histórias” encontra resposta para essa questão.
Um romance ágil e muito bem escrito.  
A outra face da poesia
“Assombrada! / Assim eu vivo.../ Mas / De que adianta/ Fechar os olhos / Se quanto mais eu fecho/ E quando mais os vejo/ Somos nós os fantasmas das visões que criamos”. (pág. 51).
Anverso. Wanda Monteiro. Editora Amazônia. 140 páginas. R$ 20.
Num livro clássico — O Arco e Lira —, Octavio Paz anotou que “a poesia coloca o homem fora de si e simultaneamente o faz regressar ao seu ser original: volta-o para si. O homem é sua imagem: ele mesmo e aquele outro. (...) A poesia é entrar no ser”. Wanda Monteiro sabe muito bem disso, razão por que, na sua poesia, é o humano verso e, de pronto, transcreve seu anverso.
Mas, quantas faces há no humano dizer? E quantas máscaras cobrem uma constelação de poemas? Para esclarecer tais enigmas, tantas vezes num vão pesquisar, Wanda diz ao leitor: “Num duelo constante/ Da mente que mente,/ Que Engendra o que sinto e pressinto/ O que vejo e o que revejo/ Que captura e revela o que parece ser? // Viajo atônita/ tentando dissipar o medo e desvendar mistérios// Seguindo na mais perene dúvida”.
O toque rítmico deste “Anverso” está numa bela fantasia poética: um intenso diálogo entre o Eu e o Outro, em dimensão comum a todos os mortais. Afinal, em certos instantes, tomados por inquietações, tal como nos versos de Wanda Monteiro, podemos refletir: “Quem sabe dizer/ Dessa coisa insana/ Que assalta a consciência/ Que funde sensações/ E confunde os sentidos// Quem sabe dizer/ dessa coisa estranha/ Que se entranha/ Que invade o corpo/ E ronda alma?”.
Nos anversos da alma talvez estejam os mais belos poemas sobre nosso verdadeiro destino.
 O texto é notícia
Nesta quarta-feira, às 17h, na Academia Niteroiense de Letras (Rua Visconde do Uruguai, 456 - Centro), dentro do projeto Conversa Literária, tendo como mediador o acadêmico Gilson Rolim, será entrevistada a acadêmica Neide Barros Rego. Entrada franca.
Nesta terça-feira, às 16h, na Academia Brasileira de Literatura (Rua Teixeira de Freitas, nº 5, 3º andar, Passeio Público - Rio de Janeiro), Posse Solene da Escritora e Editora Márcia Pereira, que será recepcionada pela acadêmica Maria Amélia Amaral Palladino. Entrada franca.
Nesta terça-feira, às 17h30, na Academia Brasileira de Letras (Av. Presidente Wilson, 203 - Castelo – Rio de Janeiro), sob coordenação do acadêmico Evanildo Bechara, dentro do novo Ciclo de Conferências Entre a Gramática e a Linguística, o acadêmico  Arnaldo Niskier palestrará sobre Estrangeirismos: um bem, um mal?. Entrada franca. 
O livro Impérios da Comunicação, de Tim Wu, editado pela Zahar, aborda teoria da história das comunicações de Graham Bell ao Google.
Fonte: O fluminense

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