"O Homem Que
Não Sabia Contar Histórias", romance de Rodrigo Barbosa discute a nossa
integração ou não nas histórias por nós vividas. A narrativa faz um passeio
pelo Brasil
“A história
que a gente escreve nunca é a que se quer escrever. Esta, por exemplo, não é a
história que eu quis. É a que aconteceu, o que é bem diferente!” (pág. 9).
O Homem Que Não
Sabia Contar Histórias. Rodrigo Barbosa, Editora Record. 224 páginas. R$ 32.
Escritores do
século XIX, na maioria, contavam histórias que procuravam o claro dizer.
Personagens por vezes fracamente delineados, mas incisivos em traços
comportamentais. Muitos desses personagens iam contar uma coisa e acabavam
contando outra.
Essa ambiguidade,
até “fingimento”, ao narrar um romance, reaparece aqui, com plena intensidade,
neste livro de Rodrigo Barbosa, que foi chefe de reportagem de jornal, é
professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e gerente de comunicação numa
empresa de logística.
A trilha de José
Brás, meteorologista, teve um sério e decisivo momento — aquele em que olhou o
fundo de xícara e ali viu apenas a imagem de um homem medíocre. Foi aí que lhe
nasceu a ideia — tentar contar uma história. Entrevistado por Juliana, uma
sagaz repórter, sobre o “caso dos pontos luminosos na terra de Hatumbi, em
1972”, teve inspiração para contar sua trajetória existencial, em torno da
seguinte divagação: “Dizem que os quarenta é mesmo uma idade em que os homens
se dispõem a balanços”.
Mas seu currículo
não dava para escrever cinco linhas razoáveis de biografia. Era necessário
inventar história? Ou contar casos reais? Afinal, aonde vai e o que terá a
fazer, um homem que não realizou nada de importante na vida? “De que serve um
homem que nem mesmo é capaz de contar uma história?”.
A escritora Rachel
Jardim, na “orelha” do livro, observa que “personagens de Joyce e de Rodrigo se
assemelham no espantoso esforço de viver seu dia a dia”. A narrativa passeia
pelo Brasil contemporâneo, a relembrar o golpe de 64, a bomba do Rio Centro, a
campanha das Diretas Já. Com a voz em 1ª pessoa muita coisa vai sendo revivida
num caderno de anotações. Embora, o real, e pra valer, surja em 3ª pessoa, com
investigação sobre um caso misterioso.
Numa antiga crônica,
Antônio Maria queixava-se da falta de assunto para compor um texto. Ficou
desesperado ante tal situação e, de repente, foi tomado por um verso de
Fernando Pessoa: “em tudo quanto olhei fiquei em parte”. Ficamos em parte, ou
totalmente integrados, nas histórias da vida? “O homem que não sabia contar
histórias” encontra resposta para essa questão.
Um romance ágil e
muito bem escrito.
A outra face da poesia
“Assombrada! /
Assim eu vivo.../ Mas / De que adianta/ Fechar os olhos / Se quanto mais eu fecho/
E quando mais os vejo/ Somos nós os fantasmas das visões que criamos”. (pág.
51).
Anverso. Wanda
Monteiro. Editora Amazônia. 140 páginas. R$ 20.
Num livro clássico
— O Arco e Lira —, Octavio Paz anotou que “a poesia coloca o homem fora de si e
simultaneamente o faz regressar ao seu ser original: volta-o para si. O homem é
sua imagem: ele mesmo e aquele outro. (...) A poesia é entrar no ser”. Wanda
Monteiro sabe muito bem disso, razão por que, na sua poesia, é o humano verso
e, de pronto, transcreve seu anverso.
Mas, quantas faces
há no humano dizer? E quantas máscaras cobrem uma constelação de poemas? Para
esclarecer tais enigmas, tantas vezes num vão pesquisar, Wanda diz ao leitor:
“Num duelo constante/ Da mente que mente,/ Que Engendra o que sinto e pressinto/
O que vejo e o que revejo/ Que captura e revela o que parece ser? // Viajo
atônita/ tentando dissipar o medo e desvendar mistérios// Seguindo na mais
perene dúvida”.
O toque rítmico
deste “Anverso” está numa bela fantasia poética: um intenso diálogo entre o Eu
e o Outro, em dimensão comum a todos os mortais. Afinal, em certos instantes,
tomados por inquietações, tal como nos versos de Wanda Monteiro, podemos
refletir: “Quem sabe dizer/ Dessa coisa insana/ Que assalta a consciência/ Que
funde sensações/ E confunde os sentidos// Quem sabe dizer/ dessa coisa
estranha/ Que se entranha/ Que invade o corpo/ E ronda alma?”.
Nos anversos da
alma talvez estejam os mais belos poemas sobre nosso verdadeiro destino.
O texto é notícia
Nesta
quarta-feira, às 17h, na Academia Niteroiense de Letras (Rua Visconde do
Uruguai, 456 - Centro), dentro do projeto Conversa Literária, tendo como
mediador o acadêmico Gilson Rolim, será entrevistada a acadêmica Neide Barros
Rego. Entrada franca.
Nesta terça-feira,
às 16h, na Academia Brasileira de Literatura (Rua Teixeira de Freitas, nº 5, 3º
andar, Passeio Público - Rio de Janeiro), Posse Solene da Escritora e Editora
Márcia Pereira, que será recepcionada pela acadêmica Maria Amélia Amaral
Palladino. Entrada franca.
Nesta terça-feira,
às 17h30, na Academia Brasileira de Letras (Av. Presidente Wilson, 203 -
Castelo – Rio de Janeiro), sob coordenação do acadêmico Evanildo Bechara,
dentro do novo Ciclo de Conferências Entre a Gramática e a Linguística, o
acadêmico Arnaldo Niskier palestrará sobre Estrangeirismos: um bem, um
mal?. Entrada franca.
O livro Impérios
da Comunicação, de Tim Wu, editado pela Zahar, aborda teoria da história das
comunicações de Graham Bell ao Google.
Fonte: O fluminense
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